Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, Álvaro de Castro Lima, diretor do Instituto Diáspora Brasil, denunciou o aumento da repressão e das violações de direitos humanos cometidas contra imigrantes nos Estados Unidos. Residente em Boston, Massachusetts, onde está a segunda maior comunidade brasileira no país, ele relata um cenário de medo e perseguição promovido por agentes da polícia migratória, o ICE (Immigration and Customs Enforcement), frequentemente mascarados, armados e sem identificação.
“As operações continuam aqui de uma forma bastante complicada. […] O governo federal está sequestrando pessoas na rua com máscaras, sem se identificarem, sem a prefeitura e os governos locais saberem o porquê, quando e onde estão presos, o que é totalmente ilegal e aparece de uma forma autoritária e, eu diria, fascista”, relata.
De acordo com ele, “essa polícia paralela que se criou também cria uma sensação de insegurança em todo o mundo”. “Eles estão mascarados, não se identificam […], entram na casa das pessoas sem mandato judicial… O clima que se está criando é de um Estado sem direito”, classifica. “A deportação não é o novo, o novo é a forma como estamos sendo desumanizados, perseguidos, desaparecidos. Às vezes, se am duas, três semanas, e não se sabe onde as pessoas estão”, denuncia.
Segundo Álvaro, muitos brasileiros estão evitando sair de casa, ir ao trabalho, ao hospital e até levar os filhos à escola por medo de serem detidos. “Separam pais de filhos. […] É uma prática de terror de Estado com uma população indefesa que não tem nenhuma justificativa”, critica Lima. “Não são criminosos, são pessoas comuns, pais, mães, crianças que estão sendo algemadas. Isso precisa parar. […] É uma violação dos direitos humanos brutal”, aponta.
Autoritarismo atinge toda população
A repressão, segundo ele, não atinge apenas imigrantes. “A população americana está começando a perceber que isso não é um problema contra os imigrantes. É um problema de autoritarismo e fascismo contra qualquer pessoa que tenha qualquer ideologia, qualquer posição diferente do governo federal”, alerta.
A expectativa é de que manifestações e protestos se ampliem nos próximos dias, em cidades como Nova York, Chicago e Boston. “Ele [Trump] tem atacado a mídia, as universidades, os grandes escritórios de advocacia… é um ataque geral a todas as instituições”, ressalta.
Instituto reivindica apoio do Brasil
O Instituto Diáspora Brasil, junto de outras organizações como o Grupo da Mulher Brasileira e o Brazilian Workers Center, tem oferecido apoio aos imigrantes e reivindicado mais e do governo brasileiro. Entre as demandas está o reforço das equipes nos consulados, diante da situação de brasileiros indocumentados também no próprio país de origem.
“Muitos não têm mais aporte, as crianças que nasceram aqui não têm nacionalidade brasileira, e isso cria uma tensão grande”, explica Álvaro Lima. O diretor defende que o Brasil se manifeste publicamente contra as ações e leve a denúncia a organismos internacionais.
O instituto protocolou cartas no Itamaraty e no Ministério dos Direitos Humanos, com quem terá uma reunião nesta quarta-feira (11), exigindo uma resposta oficial do governo. “Vamos pedir um apoio do governo brasileiro que se manifeste em relação a essa situação e à forma desumana como nós temos sido tratados. Isso está tomando proporções bastante perigosas”, adianta.
Para ouvir e assistir
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.