O mundo parece sem direção. Há uma sensação coletiva de desnorteamento diante da real dimensão dos impactos das mudanças climáticas sobre o futuro da humanidade. Sabemos que estamos em crise – talvez a maior já enfrentada –, mas seguimos agindo como se houvesse tempo, como se o planeta fosse infinito e como se os alertas pudessem ser ignorados.
No Brasil, vivemos um cenário de contradições diárias. Enquanto cientistas e estudiosos do clima emitem alertas cada vez mais dramáticos sobre a urgência de mudar o rumo, autoridades discursam sobre sustentabilidade, mas agem de forma errática. Muitas vezes, suas decisões colocam em risco o equilíbrio ambiental do país, em nome de uma ideia ultraada de desenvolvimento.
Não são poucas – nem simples – as pautas que dominam o debate ambiental no Brasil e, especialmente, no Distrito Federal. Fala-se muito em transição energética e redução das emissões de CO₂, mas seguem aceleradas as propostas de instalação de termoelétricas e as tentativas de privatização de unidades de conservação, entregando a gestão de áreas estratégicas à lógica do lucro.
Aqui no DF, os desafios da revisão do Plano Diretor de Ordenamento Territorial (Pdot) se agravaram com a ameaça do Projeto de Lei que flexibiliza o licenciamento ambiental – já aprovado no Senado e em tramitação na Câmara dos Deputados. O Congresso Nacional parece desconectado da realidade das comunidades e das ameaças concretas que pairam sobre nossos territórios. As pautas ambientais estruturantes seguem sendo atropeladas por interesses pontuais e de curtíssimo prazo.
A preservação ambiental tem sido tratada como obstáculo ao desenvolvimento. Mas cabe perguntar: o que diriam hoje os fazendeiros do Rio Grande do Sul que perderam tudo – rebanhos, plantações, terras – na tragédia climática de maio do ano ado? Um evento extremo, mas não isolado. No Distrito Federal também sentimos os efeitos: chuvas intensas, longos períodos de seca, temperaturas recordes de calor.
Tudo isso já está acontecendo. Não é previsão futura – é realidade.
E mesmo assim, basta um breve intervalo entre uma tragédia e outra para que o debate público volte a ser tomado por propostas que nos ameaçam ainda mais. Parece que estamos sempre dispostos a esquecer, em vez de aprender.
Então, repetimos a pergunta essencial neste mês em que comemoramos o Dia Mundial do Meio Ambiente: o que precisa acontecer para que o direito ao futuro – de jovens, crianças, fauna e flora – seja, enfim, levado a sério?
Enquanto não houver coragem para mudar a lógica de destruição que nos trouxe até aqui, seguiremos à beira do colapso, naturalizando perdas, ignorando alertas e tratando o planeta como descartável. Mas a natureza não negocia – ela apenas responde.
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*Lúcia Mendes integra a coordenação do Fórum de Defesa das Águas , do Clima e Meio Ambiente do Distrito Federal.
**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.